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Investir andando de skate
Publicado originalmente
Por Alexandre Espirito Santo
‘Tempo, tempo, tempo, tempo’, já diria Caetano Veloso
Recentemente, concedi uma entrevista em que a jornalista solicitou que eu sugerisse uma carteira de investimentos para Rayssa Leal, nossa medalhista olímpica na modalidade de Skate Street. Com somente 13 anos, Rayssa usou com maestria os corrimãos e rampas da pista em Tóquio, tornando-se a mais jovem atleta do mundo a receber uma medalha em Olímpiadas, e deve receber R$ 150 mil de prêmio do COB, pela prata. Antes de revelar minha sugestão, é importante entender o conceito de acumulação de capital.
Na matemática financeira, existem duas formas de o dinheiro evoluir no tempo: juros simples e compostos. Em suas definições, no primeiro, a taxa de juro incide somente sobre o capital inicial, enquanto no segundo temos o chamado anatocismo, quando a taxa incide sobre o montante acumulado no período imediatamente anterior, ou seja, sobre o capital já acrescido de juros, o que implica no famoso “juros sobre juros”. Assim sendo, temos, matematicamente, funções diferentes, pois em juros simples a evolução se dá de forma linear, enquanto em compostos é exponencial.
Existem muitas discussões sobre a constitucionalidade dos juros compostos. Há uma súmula do STF contra, em algumas situações. Porém, o próprio STF havia dado “ok” numa MP, de 2001, que permitia a cobrança. Além do mais, em 2019, o Congresso rejeitou proposta que proibiria o anatocismo.
Para entendermos o poder da capitalização composta, vamos a um exemplo prático: os R$ 150 mil que a jovem skatista brasileira receberá de prêmio, aplicados a 10% ao ano, acumularia, em 30 anos, respectivamente, em juros simples e compostos, os valores de R$ 600.000 e R$ 2.617.410, ou seja, mais de quatro vezes; uma baita diferença.
O mundo ideal seria tomar empréstimos a juros simples e aplicar dinheiro em compostos. Concordemos, contudo, que isso não é possível. Desse modo, o melhor que um jovem pode aprender é que o tempo está a seu lado nessa empreitada de acumular capital. Quanto mais longo o período mais recursos no futuro.
Assim sendo, passo para a segunda parte desse texto. Como Rayssa é muito jovem, ela pode correr mais riscos nos seus investimentos. Caso algo saia errado momentaneamente, numa aplicação ela teria tempo para recuperar. Tal situação já não acontece com os que possuem idade mais avançada. Em outras palavras podemos sugerir que os mais jovens podem aceitar mais riscos, enquanto os com mais idade precisam ser mais conservadores.
Nos EUA, existe uma regra muito conhecida: Admitindo que a expectativa de vida seja 80 anos, pegue sua idade e subtraia desse número; seria o percentual que poderia ser investido em ativos de maior risco, enquanto o restante ficaria em renda fixa, mais conservadora. Exemplo: Suponha um jovem de 20 anos. Fazendo 80 menos 20 teríamos 60, sendo esse percentual alocado em ativos “arriscados”, como ações por exemplo, enquanto os demais 40% ficariam em renda fixa.
É claro que cada país tem suas especificidades, e a volatilidade dos ativos é diferente. Como a expectativa de vida está crescendo, podemos ousar. Assim, minha sugestão para jovens com a idade dela seria: 35% em fundos de renda fixa; 25% em fundos multimercados; 25% em ações e 15% em fundos imobiliários. No caso dela, admitindo que essa carteira renda, em média, 8% ao ano, ela acumularia, com seus R$ 150 mil, em 40 anos (estaria com a idade de 53!) a quantia de R$ 3.258.678.
Evidente que ir depositando, de tempos em tempos, valores adicionais, elevaria bastante esse número. Só para ilustrar, se nossa skatista dispuser de R$ 500 mensalmente para investir, a essa mesma taxa, ela acumularia adicionalmente, em 40 anos, o equivalente a R$ 1.610.476 que, somados àquele valor, perfaz o total de R$ 4.869.154. Nada mal! Claro que a inflação pode corroer parte desses ganhos; podemos tratar sobre isso em outro texto.
Imagino que Rayssa deve ter sofrido algumas quedas até se tornar uma medalhista olímpica. Nos investimentos é assim também: alguns reveses até o sucesso. Desejo prosperidade a ela e a todos os atletas brasileiros. Dedicação, treinamentos exaustivos, sonhos, tudo misturado. É uma vida complicada, especialmente para uma jovem, que precisa abdicar de lazer na maior parte do tempo. Porém, nos investimentos, o tempo está a seu favor… E passa rápido.
Assista ao Minicurso gravado (06 de outubro a 27 de outubro de 2020):
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